domingo, 25 de outubro de 2009

Onde esta o caminho "Do"?


Recentemente vi um filme que me chamou atenção pela sua mensagem de superação e determinação passada pela atriz principal, Demi Moore. O filme (Até o limite da honra) começa e termina com uma frase que para muitos, não passa de algo enigmático e sem muito sentido, mas na verdade, ela sintetiza a essência do caminho (Do), que está presente não só nas artes marciais que adotam “Do” como virtude, mais em muitas outras vias que nos levam a perceber nossa existência de uma forma mais clara e natural.

A frase: “Um pássaro cai morto de um galho, sem jamais sentir pena de si mesmo.”

Citada por um comandante para um grupo de soldados de uma escola naval americana, que irão viver posteriormente um verdadeiro inferno de privações e torturas, típico dos mais rigorosos treinamentos militares de guerra, anuncia o sentido verdadeiro do caminho guerreiro, que nada mais é do que romper com as amarras do ego para poder seguir enfrente sua caminhada de forma natural, seja estando num inferno ou num paraíso.


A grande verdade, é que nós seres humanos vivemos a maior parte do nosso tempo apegado a nós mesmo e aos nossos julgamentos, quase sempre centrados nas coisas que são apropriadas ou não para nossos interesses. Assim, vamos cada vez mais descartando o que é natural em nossas vidas, em detrimento as nossas preferências egoísta, onde construímos um mundo distante do que poderíamos chamar de ideal para nos realizarmos como pessoa.

Interpretando um pouco mais a frase do comandante, vamos perceber que o pássaro que caiu morto de um galho e que jamais sentiu pena de si mesmo, passa a ser uma metáfora da morte de um ego, que vive clamando por uma vida de piedade e privilégios.

O fim do caminho de todos os verdadeiros guerreiros passa ser o triunfo de uma existência que conseguiu superar o apego, ficando livre das correntes do ego e estando pronto a cada momento para partir, sem sequer sentir pena de si mesmo.

Sensei Jony

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

As mudanças no caminho.

É surpreendente perceber como somos vulneráveis a tantas transformações, sobretudo quando estamos caminhando numa jornada onde cada passo percebemos que alguma coisa mudou e já não somos os mesmo. Quando paro para recordar dos vários momentos que vivi nesta caminhada com o Judô, olhando para trás, vejo alunos que hoje se transformaram em adultos e seguem suas vidas cada qual com seus afazeres.

Este sentimento de mudança que oscila como um pêndulo, que nem sempre cai para o lado que desejamos, nos vai mostrando que a vida é um fluxo initerupto de muitos acontecimentos, alguns deles bem imprevisível, o que nos leva pensar dos porquês de tantas mudanças. A exemplos disto, posso citar muitos dos meus alunos que julgava ter um futuro brilhante pelo seu talento nato na arte e acabaram sucumbindo no caminho por motivos que talvez para eles fossem mais importante, e outros, que com grandes dificuldades conseguiram chegar longe na caminhada, tornando-se grandes colaboradores do nosso Dojo.


Com o passar dos anos, constatei que o talento e os dons divinos na arte podem ajudar muito a afastar grandes dificuldades e barreiras que julgamos intransponível com mais facilidade. Mais como a construção do conhecimento não se faz apenas com os talentos e sim com muito esforço e perseverança, estas pessoas ditas privilegiadas, pelos seus dons, acabam muitas vezes sendo suas vitimas, e fenecem num caminho que poderia ser exemplar a todos a sua volta.

Assim, percebemos que são justamente os vários contratempos, erros, derrotas, decepções, e frustrações inerentes ao caminho, que no fundo, nos estimulam continuar caminhando em busca de nossos ideais.

E quando vejo alunos que iniciam sua caminha no Judô, com o sonho da faixa preta e de se tornar um grande campeão, consigo perceber o quanto irão ter que “sofrer” para conquistar seus sonhos. Porém, a experiência me trouxe uma visão mais clara sobre as dificuldades e quando percebo estas sobre meus alunos, posso afirmar que experimento uma sensação de preocupação e contentamento simultaneamente. Preocupação pois temo que elas possam ser mas fortes do que eles e contentamento, pois sei que elas estão ali para testá-los e sua presença será importante no desenvolvimento de cada um.

A grande verdade, que apesar de todos os ensinamentos convergirem para um maior preparo psicológico e físico de cada aluno, ainda sim, não podemos moldar totalmente seu interior, pois cada um , carrega dentro de si mistérios , forças e fraquezas, que estão na maioria das vezes distante de nosso controle.

Acredito que a sabedoria maior, esteja em não ir contra a correnteza e aceitar de bom gosto todas as dificuldades, como se fosse um presente divino que nos transformará pessoas e judoca melhores.


Sensei Jony

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Qual é a melhor arte marcial?


Há muitos anos venho ministrando aulas de Defesa Pessoal para formação de profissional de segurança, e freqüentemente sou surpreendido com perguntas sobre qual a arte marcial mais eficiente. Mesmo que tivesse praticado todas as artes, ainda sim, não conseguiria responder tal pergunta, pois quase todas elas, sobretudo as artes tradicionais que estão apoiadas numa visão filosófica de um caminho (Do) espiritual, convergem para um treinamento do conhecimento de si mesmo onde os maiores obstáculos, sem dúvidas, estão na capacidade de discernimento do que fazer em situações onde os obstáculos nos surpreendem.

Assim, num combate, nem sempre vence o mais habilidoso, às vezes o sucesso da luta estar além das fronteiras da técnica, onde para se chegar é preciso que se caminhe apoiado na persistência, afim de vencer os adversários mais fortes e astutos que um lutador pode ter em seu caminho, os seus “inimigos invisíveis”, que aparecem com vários nomes, como : medo, raiva, insegurança entre outros que nos vivem dizendo que não somos tão capazes assim.

Dentro desta linha de pensamento, poderia dizer então, que a melhor arte marcial será aquela que prepara seus discípulos para se defenderem com um maior poder de discernimento e autocontrole na luta contra nossos inimigos e adversários mais sutis, e que estão nos acompanhando dia a dia.

Já dizia nosso grandioso mestre Jigoro Kano , fundador do Judô, que a “maior de todas a vitórias é a que conquistamos sobre nós mesmo” . Nada adiantará conquistarmos uma posição de estatus numa arte marcial, seja subindo no mais alto degrau de um pódio ou conquistando a mais alta graduação, se não conseguimos o maior de todos os conhecimentos, que é aquele sobre nós mesmo.

Acredito que o segredo para o desbravamento destas conquistas interiores, esteja apoiado nas virtudes do caminho (Do), que nos leva a refletir constantemente sobre nós mesmo e sobre os diversos obstáculos que se interpõem na nossa caminhada.

Sensei Jony

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Espírito de Repetição


O espírito de repetição é o movimento que nos aproximar da técnica perfeita. Em todas as atividades que um dia foram ideais e que hoje são importante para nossas vidas, só se concretizaram pela insistência na pratica, onde a repetição se tornou o melhor caminho para concretização do ideal proposto.

Um aluno que inicia uma prática num caminho espiritual, ao chegar é como se foste um pedra bruta, e que com o tempo, vai sendo lapidada pela insistência na prática, e aos poucos, as transformações vão sendo notadas em toda a sua plenitude. Assim, todos os mistérios que circundam a arte vão sendo revelados pela prática, que deve ser sempre temperada pela nossa persistência e motivação interior.

Sensei Jony

domingo, 4 de outubro de 2009

Shoshin
Shoshin, literalmente significa mente de principiante. A mente de um principiante é uma mente aberta para o conhecimento, que não esta aprisionada as indagações profundas do que é certo ou errado. É uma mente que aceita as coisas como elas são, sua forma de ver é natural e descontraída, livre dos hábitos do experiente no caminho.

A mente do principiante carrega consigo todas as possibilidades que os medos e as ansiedades do mais adiantado no caminho manifesta. É uma mente comparada ao um grande portal, que se abre a todos no início da caminhada, e aos poucos vai se fechando, é quando percebemos que o vazio foi preenchido por um amontoado de experimentos, duvidas e incertezas. Sentimos a necessidade de resgatar a naturalidade e pureza da mente de iniciante que um dia perdemos.

Sensei Jony

Cerimonial de Troca de Faixa - 2009
Não podemos se esquecer que as grandes jornadas começam com o pequeno primeiro passo, e que no final delas, é a lembrança do trajeto que fica na memória, para sempre. Encontrar espaço, ou tempo, para pensar nesses aspectos se torna fundamental para todos aqueles que seguem o caminho (do). Mas o verdadeiro judoca para, medita e reflete sobre seu caminho, o que o leva a subir mais um degrau na infinita escada do esclarecimento.

Simplesmente viver , para todo o judoca é trilhar o caminho que o leva a se encontrar com o mistério que esta envolto pela vontade divina e pela nossa própria força de vontade, de realizar feitos que um dia podemos nos orgulhar e partilhar com as novas gerações. Mas basta lembrar que a jornada de um judoca é feita de passos. Pequenos e sempre um de cada vez. E alguns tropeços e quedas, mas sempre mantendo a humildade de aprender e o orgulho de se levantar, nunca se entregar.


O caminho, quando encarado dessa forma, parece um pouco mais simples, leve, previsível. Mas não há mal nisso. Ajuda muito ter em mente a noção de metas para o dia: sorrir, cumprimentar, relevar, ajudar, se esforçar. Mas todo o esforço precisa vir do coração, um esforço sincero. De outra forma, seria apenas encenação de cortesia, uma máscara que cobre um coração vazio de intenções de um indivíduo que é um dente de uma fria engrenagem, e não um pequeno motor.


Um grande mestre ZEN disse uma vez: "Estudar o EU é esquecer o EU. Esquecer o EU é compreender todas as coisas."
Sensei Jony